segunda-feira, 5 de julho de 2010

UMA HISTÓRIA DE AMOR


Hoje vou falar-vos de Amor... mas de um amor diferente.
Vou falar-vos do meu amor às plantas...
Vai ser uma conversa necessariamente intimista... mas sem biombo.
No fundo um amor à terra e às gentes...
As minhas frágeis plantinhas foram para mim, um caso de amor à primeira vista. As árvores, não. São mais esquivas. Mas quando aceitam o meu amor, é amor para toda a vida! Travo com elas um relacionamento de respeito e admiração. Nas minhas horas de pasmo, nos abrasados plainos alentejanos, dou comigo a olhar para as velhas oliveiras e azinheiras de idade quase cósmica e fico a pensar e também a contemplar a sua admirável capacidade de sofrimento. Árvores grotescas, atormentadas pela sede, que assentam no chão uma patorra disforme e estendem para os céus braços desvairados de divindade hindu!
Penso nos homens que as plantaram. Algumas há séculos. Quem as lançou à terra, naquele instante telúrico, certamente teria que ter uma noção, um sentimento de imortalidade quase divina.
Mas deixem-me contar-vos uma pequena e inocente história que está na génese da minha paixão pelas plantas mágicas.
Quis a fortuna que eu tivesse uma infância, também ela, mágica...
Entre duendes, feiticeiros aromas e perfumes... Uma velha casa com
flores nas janelas como que fora feita para eu morar nela, cheia de recantos e sombras e cheiros das casas que têm alma e história. Ao fundo um ribeiro manso, saltitante, alegre e atrevido. Bordejado por margens cobertas de erva verde e fresca. Eu, um petiz de calções, qual pardalito enfezado, mal chegava da escola, ao fim da tarde morna, descalço - sim... porque nesse tempo se ia descalço para a escola, que os tempos eram de pobreza... atirada a sacola dos livros para um canto, corria desaustinadamente até aquele regato de água límpida e convidativa... e lá chapinhava encharcando-me todo, enquanto ouvia a minha velha mãe: Joãozinho... filho! Ai o raio do gaiato que nunca mais tem tino!
Depois... seguia-se um estranho ritual. Saía da água, a escorrer e deitava-me na erva fresca, cabeça enterrada no verde... e deixa-me envolver, longamente, por um perfumezinho suave, um aroma subtil e ao mesmo tempo envolv
ente de um plantinha que nunca consegui identificar! E ali ficava, como que anestesiado... longos tempos até a noite cair e ouvir de novo a voz da minha mãe: Filho... vem para casa que já é tarde!
Os baldões da vida ou os azares da fortuna fizeram-me perder para sempre a minha velha casa e aquele regato menino e os sonhos da minha infância... mas não me fizeram esquecer o perfume daquela planta mágica, que eu nunca consegui encontrar e que busco até hoje...

3 comentários:

Anónimo disse...

Um texto lindo, de uma ternura inexaurivel, que transmite o magia de uma vivêncioa rica de sentimentos e emoções.
Tu serás sempre um Jardineiro perene na arte da escrita e do plantar...
Não deixes nunca de escrever. É muito bom ler-te e aprender contigo!
Anixa

Majo disse...

Concordo com o comentário supra-citado.
Estes textos mimam-nos com uma primorosa prosa poética, tocante e deliciosa.

Majo disse...

Poeta dos teus amores e das tuas emoções, encanta-nos o teu saber, a tua sensiblidade, o teu talento e o teu estro.
És abençoado por dedicares a tua vida áquilo que mais gostas de fazer: cuidares dos teus queridos seres, ensinar e escrever.
Desejo-te muito sucesso e as maiores felicidades.