sábado, 29 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DE NIKE - CRIME SEM CASTIGO...

Em Julho de 2010, contei, neste mesmo blogue a história de um cão - o Nike - que havia sido expulso da sua casa de sempre, pelos seus donos. Razão para esse acto? Nenhuma... apenas porque sim!
O Nike vivia do que lhe davam- quando lhe davam... Sofreu com as inclemências do frio no Inverno e com a canícula do sol no Verão. Sobrevivia de esmolas, do que lhe davam. Nunca se queixou, nunca reclamou, que a vida para ele havia sido sempre madrasta. E quem sofre os efeitos de um abandono depressa aprende a viver com pouco. A dar valor às coisas simples da vida, sejam elas alimentos ou um afago. E isso fez com que o Nike nunca se afastasse daqueles que agora - mal ou bem - proviam a sua sobrevivência. É que tal como certos homens, também o Nike era um deserdado da fortuna, um filho de um Deus Menor. Mas...
Um dia o Nike desapareceu. Passaram dias, semanas, meses.  Do simpático e afável Nike nem sinal. As pessoas que se tinham habituado a ele e à sua afabilidade, acabaram por se convencer que ele tinha desaparecido para sempre. Mas a tragédia do Nike ainda lhe tinha reservado um último e trágico acto. A noticia chegou de chofre: O Nike está no canil municipal! Foi atingido a tiro de pistola à queima roupa. Dificilmente irá sobreviver. Alguém encontrou o Nike com as pernas traseiras destroçadas por uma bala que ainda se encontrava alojada no osso, a arrastar-se no meio do mato e alertou o Grupo de Voluntários do Canil Municipal do Seixal que providenciou o seu transporte e assistência médica imediata.
 A primeira reacção dos médicos que o observaram foi "adormece-lo". Poucas hipotses de sobrevivência tinha  aquele cão que, certamente, iria perder as duas pernas traseiras,  que já não era jovem, que estava terrivelmente debilitado. Só que o Nike não é um cão qualquer. É senhor de uma força e de um desmedido Amor à Vida. A forma corajosa com que decidiu enfrentar mais esta provação, sem um lamento, sem um ganido,  fez com que os médicos que o acompanham  decidem encetar uma luta para o salvar. É que o Nike apenas quer viver...
No momento em que estas notas estão a ser escritas ele está a ser submetido a mais uma intervenção cirúrgica numa ultima tentativa para lhe salvarem a perna traseira que resta.
Se sobreviver, só sairá do canil para uma família de acolhimento. Não mais a rua será o seu destino.


ISTO É CRIME! 


    Resta-me uma pergunta e ao mesmo tempo um desabafo: O autor deste crime, os donos que expulsaram o Nike de casa, conseguirão dormir de consciência tranquila?                                           

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A VIDA íNTIMA DAS FLORES

Esta é uma conversa que será, necessariamente,  intimista. Porque os assuntos abordados aconselham a que se tenha recato e bom senso. Com biombo, para resguardar as personagens de olhares curiosos. Em alguns capítulos não faltará a inevitável "bolinha vermelha" no canto superior direito...

UM PERFUMEZINHO SUAVE. TAL COMO NÓS...
Queremos cheirar como as flores.
Civeta em cativeiro
Naquilo que podemos chamar de escala de odores, em perfumaria encontramos três patamares:  No topo encontra-se uma base floral - lilás, lírio. Logo abaixo situa-se a zona dos óleos essenciais, jasmim, lavanda. Na base desta nossa escala de valores encontramos - pasme-se -  estranhos produtos de origem animal, como o almíscar do veado com cio ou - pior ainda - o fluído, denso, acre e viscoso da glândula anal da civeta. Este fluído tem um odor fecal, pesado e desagradável. Contudo, após diluição, apresenta nuances agradáveis de aroma floral e feminino. 
A civeta ou gato almiscarado, é um mamífero carnívoro africano.
O corpo humano possui uma diversidade de cheiros de glândulas espalhadas por todo o corpo. Cada uma delas emitindo um cheiro diferente, mas, francamente, não gostamos dos nossos cheiros originais. Não queremos cheirar demasiado a seres humanos. É que nos nossos jogos de sedução é importante cheirar a algo. A técnica de atracção a isso obriga... Por isso vamos em busca de algo que nos faça cheirar aos aromas do topo da nossa escala de valores de fragrância, ou seja, queremos cheirar a flores. Instintivamente e sem nos darmos conta dessa realidade, estamos a usar  os "jogos de sedução" que se estabelecem entre flores e polinizadores. É claro que queremos cheirar a rosa, jasmim, flor de laranjeira. E não queremos cheirar a veado com cio ou a civeta...
E as flores? Será que têm os mesmos preconceitos que os humanos?
Claro que não! Algumas flores preferem cheirar a comida,  a corpos em decomposição. Até mesmo a excrementos ou a fungos., desde que essa "fragrância" sirva para atrair o insecto polinizador...


JOGOS DE SEDUÇÃO... (OU TROCA DE FAVORES?)
Boa-noite
As moléculas odoríferas das flores são libertadas por evaporação. Estas moléculas, uma vez no ar, formam, por um instante, aquilo a que se poderá chamar uma pluma de aroma. Este conjunto de moléculas tem um destinatário muito especial: "aquele" insecto!
Entre flor e insecto estabelece-se um pacto de lealdade. Para isso a flor apresenta um perfume, uma forma e uma cor que se diferencia das outras espécies. Depois há que saber cativar um insecto polinizador que a reconheça e que no futuro se lembre dela. E por último, a flor quer que aquele insecto parta com a sua carga de pólen e vá polinizar uma flor compatível, ou seja, da mesma espécie.
Chicória
Imaginemos um imenso campo de flores, onde florescem duas boas-noites separadas uma da outra por várias centenas de metros. A abelha que recolhe néctar numa delas, vai depositar esse néctar  na outra boa-noite esteja lá onde estiver, no meio de milhares de outras flores.
Onagra
Todo este relacionamento entre flores e polinizadores que aqui tento abordar de forma necessariamente superficial, diz-nos mais coisas: O mesmo insecto pode ter várias lealdades em relação a diversas flores, ou seja e concretizando melhor, direi que enquanto a flor de boa noite floresce ao cair da tarde a onagra desabrocha a seguir. Por sua vez a flor de chicória só irá abrir na manhã seguinte. Sendo assim, a nossa diligente abelha polinizadora saltitará de flor em flor mas mantendo sempre a mesma regra de ouro determinada pela Natureza: Polinizar flores da mesma espécie.
Não pensemos que a flor é injusta e não sabe retribuir generosamente esta inestimável lealdade. O doce néctar é a recompensa que a flor disponibiliza ao  insecto. Esteja este néctar onde estiver o insecto sabe que pode contar com ele.
Nalgumas flores, porém, o pólen é a recompensa, como o caso das flores que são polinizadas por escaravelhos que se alimentam de pólen.