terça-feira, 21 de dezembro de 2010

NATAL... gestos de Paz para um mundo bom.


Quero
neste
Natal
armar uma
árvore dentro do
meu coração e nela
pendurar, em vez de 
presentes, os nomes de todos 
os meus Amigos. Os antigos e os
mais recentes. Os Amigos de longe
e de perto. Os que vejo a cada dia
e os que raramente encontro.Os sempre
lembrados e os que às vezes, ficam esqueci-
dos. Os das horas difíceis e os das horas alegres.
Os que sem querer eu magoei, ou sem querer me
magoaram. Aqueles que pouco me devem e aqueles
a quem muito devo. Meus Amigos humildes e meus Ami-
gos importantes. Os nomes de todos os que já passaram
pela minha vida. Muito especialmente aqueles que já partiram
e que lembro com tanta saudade. Que o Natal esteja vivo em cada
dia do Novo Ano e que a Amizade
seja um momento de repouso nas
lutas da vida
para assim
vivermos
a Paz
_____juntos____
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sábado, 18 de dezembro de 2010

O SILÊNCIO DAS FLORES - Afectos e Sentimentos

Desde sempre o silêncio maravilhoso das flores e das plantas e também dos frutos,  nos revelaram sentimentos, afectos, cumplicidades.
É vasta a simbologia no mundo das plantas. Desde o Jardim do Éden ou do Paraíso, passando pelo fantasioso e mágico reino da alquimia e do culto da árvore, o Homem, desde a pré-história, procurou nas plantas não só o seu valor material mas também o seu significado religioso e sobrenatural.
No fundo, esse laço primordial que une o homem à planta desde tempos imemoriais, estende-se no espaço e no tempo até ao presente
Desde o paleolítico que o homem atribui sentimentos e significados às plantas e flores. Nas mitologias das mais diversas culturas, alicerçadas em séculos de história, de religião, de arte, de ciência e de tradições, a cada passo encontramos exemplos da forma como o homem foi preservando essa forma de entendimento do mundo que o rodeia. As árvores, as plantas, as flores são as mais pródigas na criação desses símbolos e mitos.
Na literatura universal amiúde encontramos referências a esse mundo fantástico...

JARDIM INTERIOR - O oráculo das flores

ACÁCIA - Os egípcios consideravam-na uma árvore sagrada. O tabernáculo de Moisés foi construído com madeira de acácia. A acácia dourada entra no simbolismo maçónico. As jovens gaulesas assinalavam a sua virgindade (e o desejo de a perder...) usando na cabeça um ramo florido de acácia - e os rapazes que as pretendiam tinham que se picar nos espinhos da coroa.
Representa a amizade e a solidão. A flor amarela, o amor escondido. A
branca, a preseverança.

ANÉMONA - Do grego anemone, que significa "flor que se abre ao menor vento" ou "flor do vento" (anemos significa "vento").
Relata-nos a mitologia grega que anémona nasceu do sangue do jovem e belo Adonis. Afrodite amou-o apaixonadamente ao ponto de deixar o Olimpo para o seguir por montanhas e florestas. Só que... Perséfone, Rainha dos Infernos, também se haveria de apaixonar por Adónis e, vendo que este a rejeitava em favor de Afrodite, matou-o. Zeus, a pedido de Aftodite, transformou o corpo morto de Adonis em anémona, a flor da Primavera. Com isso permitiu que este ressurgisse quatro meses por ano e nesse lapso de tempo vivesse com Afrodite.
De facto, a anémona, flor da Primavera, quatro meses depois de brotar, fenece e morre.
Aquilino Ribeiro em Andam Faunos pelos Bosques: "A anémona fragrante do seu claustro." 

MILEFÓLIO - O seu nome científico Achillea tem a sua fonte na mitologia grega. Durante a guerra de Tróia  o herói grego Aquiles foi protagonista de acto de extrema nobreza. Telefo, filho do rei da Misia. foi ferido quando combatia contra o próprio Aquiles. Este ao ver Telefo - seu inimigo no campo de batalha, mas companheiro de armas - ferido e exangue a seus pés, colheu um punhado de folhas de uma planta e colocou-as sobre as feridas do jovem e o curou.
Hoje, sabe-se que a substancia com tais poderes, existente naquela planta é um alcalóide chamado aquilína.
A este gesto tão nobre de Aquiles se ficou a dever a sua simbologia - A Nobreza de Alma.  

 AMENDOEIRA - A flor de amendoeira tem relevância no mundo bíblico. O cajado de Aarão floresce quando ele se encontra em retiro no deserto como sinal da escolha divina.
Os manuais médicos da Idade Média atribuíam à amêndoa o símbolo do embrião humano no útero materno.
Conta-nos a lenda grega que o jovem soldado Demophoon, regressado da guerra de Tróia é atirado por uma tempestade para as praias de Trácia, onde é encontrado pela jovem rainha Fílis, por quem se apaixona. Algum tempo depois Demophoon regressa a Atenas, não sem antes ter jurado regressar numa data precisa. Tal não acontece e a jovem e bela rainha cai morta nas areias da praia e transforma-se numa amendoeira. Demophoon, finalmente, regressa e nessa altura a amendoeira cobre-se de flores brancas e rosadas, como se ainda fosse sensível ao regresso do seu apaixonado.
Raul Brandão, Pescadores: "sigo caminhando pela estrada entre amendoeiras..."

TOMILHO - O seu nome científico, Thymus, do grego thymon, significa coragem. Os soldados romanos, antes de ferirem combate, banhavam-se em água de tomilho para terem mais vigor. Os cavaleiros andantes da Idade Média, levavam para a guerra, oferecidos pelas suas noivas, bordados com ramos de tomilho para aumentar a sua bravura. Os feiticeiros, na Idade Média, faziam fumigações de tomilho e erva fumária (moleirinha), em fórmulas de "encantamento". Quem não viu já em gravuras dessa época os enormes caldeirões fumegantes...
Inspiração de poetas  desde os tempos de Virgílio, pelo seu perfume subtil e marcante. Símbolo da graça e elegância, a expressão "cheirar a tomilho" era usada na Grécia para expressar agrado. 


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

FRUTA-PÃO (Artocarpus incisa) ... Do Paul (Cabo Verde) até à mesa...


Fruta-Pão no forno...


 





Uma experiência gastronómica, estaladiça, deliciosa e... inesquecível!
  
E para acompanhar...
... um  "Vinho de Meditação" Moscatel Passito Chã do Fogo

 

domingo, 5 de dezembro de 2010

ROSMANINHO AFRICANO

Este belo exemplar de Rosmaninho Africano (Eriocephalus africanus) cresceu no mais improvável dos sítios. À beira de uma estrada por onde circulam milhares de carros diariamente. Sem qualquer cuidado, alimentando-se do que a Natureza lhe dá, ele é um exemplo de resistência...


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Meu Pai - 2-12-2010

Índio Velho...Desculpa, meu Pai, hoje apeteceu-me tratar-te assim: Índio Velho!
É... mas tu tens mesmo alma de Índio. Nasceste bem longe , na Amazónia, Manaus...
Sempre foste um homem livre, simples, justo e generoso. Nunca renegaste a tua terra. nunca te envergonhaste das tuas origens. Como tantos...
Só que, meu Velho, tu viveste num mundo cruel e insensível, que sempre te maltratou, explorou e, por fim, desprezou. A única coisa que tu tinhas para oferecer era a força dos teus braços, a tua honestidade, a tua alma... um pouco da tua música. E isso nada vale! Decididamente, meu Índio Velho, este mundo não é para homens bons.
Deixa... o importante é que sempre foste igual a ti próprio, Homem de corpo inteiro... e também o legado que me deixaste. O teu exemplo e a memória dos tempos que passámos juntos. As vezes em que nos sentámos à volta da fogueira, lá longe no velho sertão...

"O galo na eira comendo uma espiga...
Batendo com força com o bico no chão.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ALENTEJO FLORIDO

Campo de Margaridas
Amendoeira em flor
Flores aquáticas
Pilriteiro
Rosmaninho
Japónica
Margaridas (brancas) e Maria-Fia
Esteva

sábado, 20 de novembro de 2010

ESPÍRITO E VIDA...

Se por instantes Deus esquecesse que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse.
    - Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo.
    - Daria valor às coisas, não por aquilo que valem mas pelo que significam.
   - Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
    - Andaria quando os demais se detivessem. Acordaria quando os demais dormissem.
    - Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol, deixando a descoberto, não só o meu corpo, como também a minha alma.
     - Aos homens eu provaria  quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecessem, sem saberem que envelhecessem quando deixam de se enamorar.
    - A um menino eu daria asas e apenas lhe pediria que aprendesse a voar. 
    - Aos velhos ensinaria que a morte não chega com o fim da vida mas sim com o esquecimento.

Tantas coisas que eu aprendi com vós, meus Amigos...
    - Aprendi que todo o mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
    - Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, agarrou-o para sempre!
    - Aprendi que um homem só tem o direito de olhar outro homem de cima para baixo quando o está ajudar a levantar-se.

Amigo...
Diz sempre o que sentes e faz o que pensas...

Supondo que hoje seria a ultima vez que te vou ver dormir, te abraçaria fortemente... e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião das nossas memórias comuns.
Supondo que estes  são os últimos minutos que te vejo, dir-te-ia... Amo-te! E não assumiria, loucamente, que já o sabes.
Sempre existe um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos as coisas bem, mas pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero...
O amanhã não está assegurado a ninguém, jovens ou velhos. Hoje pode ser a última vez que vejas aqueles que amas. Por isso não esperes mais, porque o amanhã pode nunca chegar e lamentarás o dia em que não tiveste tempo para um sorriso... um abraço... um beijo. E o teres estado muito ocupado para atenderes esse ultimo desejo.
Mantém os que amas junto de ti... diz-lhes aos ouvido o muito que precisas deles, o quanto lhes queres e quantas palavras de amor conheceres...

Lembra-te...
Não serás recordado pelos teus pensamentos secretos. Pede a Deus a força e a sabedoria para os expressares.
Demonstra aos teus amigos o quanto são importantes para ti...
Ama desmedidamente cada minuto da tua vida, mas não o queiras só para ti....

sábado, 6 de novembro de 2010

PLANTAS QUE CURAM PLANTAS Melia ou Conteira

DECOCÇÃO DE MELIA (Melia azedarach)

A Melia também conhecida por Amargoseira, Sicómoro (nos Açores) ou Conteira - porque as suas sementes eram usadas no fabrico artesanal de "contas" dos rosários... é uma árvore largamente comum nas nossas praças, jardins e ruas.
De crescimento rápido - em poucos anos se obtêm exemplares magníficos - a Melia apresenta folhagem caduca, usada para fins medicinais, flores de côr lilás, nectaríferas. Os frutos - drupas esféricas - apesar de apreciados pelos pássaros, são altamente tóxicos para outros animais e para os seres humanos. 
A madeira proveniente do tronco, de cor branca, rósea ou avermelhada, com veios castanhos, é apreciada na fabricação de mobiliário.
Como atrás refiro, os frutos e também as folhas da Melia, são tóxicos. Essa toxicidade provem dos seus componentes, saponinas e um alcaloide,  a Azaridina e têm efeito eficaz sobre pragas das plantas, pelo que os extractos vegetais obtidos por decocção podem ser utilizados em Agricultura Biológica.

Eis a receita...

Coloca-se um punhado de folhas e frutos  de Melia, em fase de pré-maturação, num recipiente metálico. Cobre-se com 3 ou 4 litros de água. Leva-se ao lume até ferver. A fervura deverá durar cerca de 20 minutos (a cor da água passará a castanha). Deixa-se arrefecer. Filtra-se e armazena-se em recipientes de plástico. 
Usa-se diluído e em pulverização, na proporção de 1 litro de produto para 4 litros de água.
A quantidade e folhas e frutos usados é a suficiente para ser coberta pela água.

Campos de aplicação:
Eficaz em pragas de afídeos (piolhos), incluindo o piolho lanígero, cochonilhas, ácaros, lagartas, etc. das fruteiras, hortícolas, roseiras, plantas aromáticas, plantas de corte, cactos... 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Minha Mãe - 29-10-2010

Este é o teu dia. Como se houvesse um dia específico para ti! Mas hoje quero conversar um pouquinho contigo. É que, sabes? Eu sinto que tenho andado um pouco afastado de ti... um pouco arredio. Vá... minha velhota, vamo-nos sentar os dois no banco de pedra, lá, à porta da casa da Avó Isabel, tua Mãe. Ou então, se preferires, naquele muro baixinho de pedra que eu fiz à volta da mangueira, que bordejava um canteiro de Alegrias da Casa... Olha Mãe, sentamo-nos onde calhar. Até podemos caminhar um pouco. Dá-me o teu braço... Tu eras pequenina, mas eu chamava-te minha "calmeirona", tu rias... nunca te zangavas. Por isso eras diferente! Deixa-me confidenciar-te uma coisa: Os meus amigos já sabem daquela história da ervinha perfumada que eu procurava na margem do ribeiro, que corria alegre lá ao fundo... lembras-te? Quando tu me chamavas: Joãozinho, vem para casa filho, já é tarde... Era até esse sítio que eu queria ir contigo. Talvez tu me ajudasses a encontrar a tal plantinha pequenina e perfumada, da minha infância, que eu nunca encontrei e que busco até hoje!
Mas o que eu queria mesmo, mesmo... era que tu me voltasses a contar aquela história do Ceguinho Saldanha... ou do Velho Cafarinha... para eu contar aos meus amigos lá do meu blogue. Tu não sabes o que é um blogue? Deixa... é uma coisa desinteressante. Um dia eu explico-te se quiseres. 
Sabes, Mãe? O papagaio Jacó morreu. Morreu de frio e de saudade, de ti. Já estava velho... mais de cinquenta anos... Sabes quais foram as suas últimas palavras? "Senhora... olha o Jacó!", como ele sempre te dizia...  Diz-me uma coisa, Mãe: É mesmo verdade que tu conseguiste "conquistar" o Pai com aquele truque de pores uma fitinha colorida no bandolim dele? Ele era um ótimo artista. Eu lembro-me de o ouvir tocar magistralmente num velho bandolim... A concorrência era forte, mas tu conseguiste conquistá-lo! Sim, eu sei que tu eras persistente. Uma lutadora. Deste sempre a cara por aquilo em que acreditavas... e acreditaste na voz do teu coração, não foi? Foi um longa história de Amor...
Sabes...
Pela Mãe-coragem que tu foste...
Pelo Amor e Carinho que semeaste pelo caminho que trilhaste... Tu não eras deste mundo. Tu foste um empréstimo de Deus a nós. Tinhas uma missão e cumpriste-a. Depois ausentaste-te para parte incerta... ou, quem sabe? Apenas te tornaste invisível. Porque o teu espírito continua a sobrevoar-nos.
Parabéns pelo teu aniversário, Mãe!
Foi bom ir ao baú das minhas memórias e revisitar-te, minha Mãe.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

NEGÓCIO DE OCASIÃO

PAÍS SOLARENGO
COM VISTA PARA O MAR

EXCELENTE NEGÓCIO
Informações:
  - Banco Central Europeu (BCE) - Frankfurt
   - Fundo Monetário Internacional (FMI) - Washington
   - Ministério das Finanças - Lisboa
(FINANCIAMENTO NÃO GARANTIDO... POR DIFICULDADES ORÇAMENTAIS...)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A AVÓ ISABEL

Quando eu era piquinino
Nos tempo da minha Avó (Isabel...)
Minha vida tinha coisa
Que agora já de acabou

A casa da Avó Isabel tinha um pátio interior...
A casa da Avó Isabel... e o cão Piloto

    Destacava-se a casa da costura... A Avó Isabel era modista. A única que havia. Procurada por gente de todas as classes sociais. Desde a prima Nogueira uma velhinha madeirense, que sempre conheci velha e encarquilhada... (eu acho que ela já nasceu velha...), que tinha poderes e sabedoria para nos acudir em casos de resolução complicada. Uma espinhela caída... um bucho virado... um entorse. "Carmo quebrado, aberto, desconjuntado..." rezava ela com um raminho de alecrim a aspergir azeite sobre a articulação maltratada (eu era um habitual cliente...). Até a D. Hendrina, uma senhora imponente, de origem sul-africana, tinha pela minha Avó  uma estima muito especial, passando pela classe média, gente da mais diversa proveniência social. Todos iam ter com a Avó... para subir uma baínha... rematar um carcela, chulear uma cava... casear uma casa de botão. E havia as meninas que iam aprender costura. "Ajudantas"... como se dizia! Havia uma de que me recordo particularmente: A Lurdes Costa, pelas historinhas de encantar que nos contava.

    Da casa de costura passava-se para o tal pátio interior - o quintal. Mas antes atravessava-se a "casa das flores". Um espaço onde a Avó tratava das suas plantas. Um telhado de telha vã. À volta uma cerca de madeira. E mil e uma plantas, magnificas. Chuva de Prata... Hortenses... Gladíolos... Lírios. Plantadas em celhas - meios barrís que haviam servido para armazenar vinho, que o Avô João, de seu nome, Sargento do Exército, um porte marcial, a condizer com o seu bigode negro e farto, trazia do quartel. O Avô João faleceu era eu um gaiato. Tenho a imagem dele envolta numa névoa...

    Ao lado, à esquerda do pátio, havia a dispensa. Era uma divisão ampla, de chão de terra batida, cheia de coisas misteriosas... Serras de cortar madeira, enormes, comparadas com o meu tamanho reduzido... Alfaias agrícolas . Uma masseira feita de um tronco gigantesco escavado, onde a Avó amassava um pão magnífico, a que acrescentava uma boa dose de batata doce cozida (à moda da Madeira, terra dos seus pais), que transmitia ao pão um sabor muito peculiar e fazia com que o pão durasse mais tempo. Depois havia um pisão, também feito de um tronco escavado, onde, com um pau luzidio do uso, se reduzia a farinha. o milho e o trigo, em movimentos sincopados, de cima para baixo. E mais... Se transformava em pó o café colhido no "outro lado" (do ribeiro) e torrado numa panelona de ferro fundido de três pés, debaixo da qual se acendia uma fogueira. Esta operação enchia o ar de um intenso cheiro a café.

    Era nesta divisão - a dispensa - que se pendurava e esquartejava o porco... momento de alta intensidade, aguardado por todos com ansiedade. O chouriço... a morcela... os torresmos.... e... e.... os "caezinhos". Os rins do porco que a Avó, sabiamente,também transformava em torresmos e que faziam as delícias dos netos. 
Ao lado da dispensa e sempre com a porta para o pátio, havia a cozinha, com um imenso fogão lenha. Um fumeiro para curar os chouriços e as morcelas. E um forno, onde se cozia o pão... semanalmente e em vésperas de Natal se assava o leitão, com recheio de arroz, sangue e miudezas e uma batata na boca. E também um pão de Natal... com sabor a erva-doce e canela, E muitos, muitos ovos... Esse foi um segredo que a Avó Isabel levou com ela. 

    Nessa cozinha havia uma hierarquia: A Avó Isabel, a tia Belita - A Bel para a Avó - e logo a seguir o Manuel Gunga um cozinheiro alto e imponente que nos amedrontava com a sua voz de trovão.

    Mesmo em frente à cozinha, do outro lado do quintal, havia a casa de jantar. Uma divisão grande, com dois armários muito antigos, os louceiros, onde se guardava a louça que servia na grande festa de Natal... a familia toda reunida à volta da grande mesa, tão grande que eu e o Vitinho - meu primo - a utilizávamos como mesa de "ping-pong". A Avó, a matriarca, na cabeceira, depois por ordem hierárquica, estabelecida pelo grau de parentesco, a restante família. As crianças, eu incluído, ficavam numa outra mesa. Quando se atingia um estatuto que o permitisse, passava-se para a mesa principal. Eu acho que nunca tive esse privilégio...
E na parede sempre omnipresente, no seu poleiro, o papagaio Jacó. 

    O Jacó viveu mais de 50 anos. Morreu de frio, de velhice e certamente de saudade, quando trouxeram para a Europa em pleno Inverno... Tinha uma faculdade - se é que se pode assim chamar! O Jacó "falava" ! Imitava na perfeição a voz das pessoas com quem convivia mais de perto: "Senhora, olha o Jacó!", palrava ele quando a Avó passava. Foram também essas as últimas palavras que o Jacó pronunciou para a minha mãe, que o "herdou", quando morreu numa tarde sombria e gélida, de Inverno...

    ...Mas também era naquele pátio, que em noites de São João se fazia a fogueira. A fogueira de São João! Em devoção ao Santo e principalmente em memória e homenagem ao Tio João. Filho mais velho da Avó. Eu já não conheci o Tio João. Lembro-me dele através das fotografias que me chegaram às mãos.

    Morreu novo o Tio João. Casou com a tia Gaby. Morreu de uma doença  contraída nas suas andanças pelo sertão africano. A "bilharziose" e deixou na Avó, uma mágoa e uma saudade imensa...

    A fogueira era acesa ao por-do-sol. Com rigor absoluto. O sol ia descendo a caminho do ocaso e todos, à volta do madeiro, aguardando pelo momento em que ele desaparecia atrás da linha do horizonte, por detrás da serra, lá para os lados da Senhora do Monte. Então cumpria-se a tradição e o ritual. A chama irrompia. E assim ficava até altas horas da noite. O jantar era servido à volta do fogaréu... 

    Havia algo de mágico e irreal nessa noite... Talvez o espírito do Tio João, sobrevoasse aquela chama...
No outro dia de manhã, antes do nascer do sol, a Avó Isabel levantava-se e tinha um ritual mágico a cumprir: ia colocar nas janelas, raminhos de alecrim e oliveira, benzidos no Domingo de Ramos, que mais tarde usava para afastar as trovoadas. Enquanto a casa se enchia do perfume do alecrim queimado no brasido ela rezava: "Santa Bárbara, Santos Fortes... Santa Mãe, miserere nóbis!"

    E ia apressada, antes que o sol rompesse, espreitar a fonte.  Se conseguisse ver o seu rosto reflectido nas águas, tranquilamente nos dizia: "Filhos, este ano a Avó vai estar viva.".
    A Avó Isabel morreu no ano em que, levantando-se de madrugada, no dia de São João, espreitou na fonte e não se reviu nas águas...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Encantamento...

...E deve ser mesmo Amor...

aquele sentimento que mexe connosco...
...que nos faz sentir ridículos... infantis... pueris!

...que ora nos embala.. ora nos atormenta!
...que nos faz balançar entre a dor da ausência e a alegria do reencontro...
...entre o chorozinho feliz e a felicidade do sentir.

Essa simbiose perfeita entre dois seres diferentes e que, de repente, quando se encontram pela primeira vez, têm a sensação de estarem, exactamente, à espera um do outro!

...a Partilha... o Feitiço... a Magia... o silêncio cúmplice.

...o embalo de uma canção de ninar, sussurrada ao ouvido ao deitar.

Um beijo soprado...
As palavras não ditas, mas sentidas de sentires tecidos de ternura...

Deve ser mesmo Amor!


CABO VERDE - Nha Cretcheu (meu amor...)

Mãe Cabo-verdiana
Baía do Mindelo
Praia dos Cães - Mindelo
Baía das Gatas - São Vicente
Praia Grande - São Vicente
Praia Grande - São Vicente
Trapiche - Fabrico de Grogue
Alambique -  fabrico de grogue
Fruta Pão - Paul - Santo Antão
Fruta Pão - Paul - Santo Antão
Ribeira Grande - Santo Antão
Ribeira Grande - Santo Antão
Minho? - Paul - Santo Antão
Coculi - Santo Antão
Coculi - Santo Antão