quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PROVÉRBIOS COM PLANTAS DENTRO

A Maria Nabiça tem tudo o que cobiça
Burro velho, erva nova
Com malvas e água fria, faz-se um boticário num dia
De raminho em raminho, o passarinho faz o ninho
Eu sou a arruda, que sou a tua ajud  
Frutos e amores, os primeiros são os melhores
Gabem-se couves, que há nabos no caldo
Hortelã sem hortelã não tem horta amanhã
Ia o cravo atrás da rosa...
Janeiro mijão não dá palha nem pão
Lua cheia não cortes a aveia   
Má é a árvore que só dá fruto a poder de trato
Nabiça quer unto; grelo, azeite; e nabo, presunto
O melão e a mulher... pelo rabo se hã-de conhecer.
Papas até à porta, couves até à horta, feijões para todo o dia.
Quem em novo não trabalha, depois de velho come palha
Ruim árvore nunca deu bom fruto
Saramago com toucinho é manjar de homem mesquinho
Tão ladrão é o que vai ao nabal como o que fica ao portal
Uns comem os figos... a outros rebenta-lhes a boca
Vinha posta a bom compasso, no primeiro ano dá agraço 
 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PREPARAÇÃO ARTESANAL DE PRODUTOS FITOSSANITÁRIOS EM AGRICULTURA BIOLÓGICA

CALDA DE SABÃO AZUL + ENXOFRE

Preparação para 10 L de calda
1.- Num balde de plástico deitar cerca de 5 L de água

2.- Misturar 200grs de sabão (diluir previamente num pouco de água morna)

3.- Deitar 200grs de enxofre em pó na mistura de água e sabão, mexendo sempre, lentamente, para evitar a formação de grumos

4.- Juntar água para perfazer os 10 L de calda

Esta calda tem uma eficácia superior a qualquer um dos seus ingredientes aplicados isoladamente. O sabão danifica a camada cerosa protectora do Insecto, levando à sua dessecação. Alem disso funciona como espalhante e aderente na superfície dos vegetais.

O enxofre tem a sua acção tóxica potenciada por uma maior aderência do corpo do insecto graças ao sabão.

Apresenta maior eficácia com a acção directa do sol, e por isso deve ser aplicada de manhã, mas há que evitar a sua utilização em dias com temperaturas superiores a 28ºC.

Pode provocar manchas sobre alguns frutos, tais como ameixas e pêra rocha. A pulverização deve cobrir bem os insectos ou ácaros a atingir e ser dirigida à rebentação no caso de afídeos (onde eles se concentram).

UTILIZAÇÃO DA CALDA DE SABÃO + ENXOFRE

Aplicar por pulverização

Fruteiras
 -Afideos (piolhos), ácaros, moscas brancas, cochonilhas. Pulgão lanigero
-Preventivo contra a mineira dos citrinos (pulverizar uma vez por semana os rebentos jovens desde o aparecimento da praga) ,

Hortícolas
-Afideos (piolhos), ácaros, moscas francas, cochonilhas...
-Preventivo contra as lagartas e percevejos.

Jardinagem
-Afideos(piolhos), cochonilhas, aranhiços.
-Pragas das suculentas.
                                                                                                              (Fonte de consulta: J.Raul Ribeiro)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

PANACEIAS PARA LIVRAR DE ANGARANHOS E MÁS-SORTES

ADIVINHAÇÕES
Os ingredientes da adivinhação:
Junta-se quantidades iguais de cipreste, mirra, incenso, salva, menta, rosmaninho, açafrão, cardamono e musgo. Deixa-se macerar quinze dias estes ingredientes no mel ou no vinho, em frasco bem rolhado. Junta-se resina na mesma quantidade, deixando-a "penetrar" uma semana. Passado esse tempo pode inalar-se os vapores deste composto.
O meimendro - tóxico - é misturado a estes perfumes. Ele dar-lhes-á um poder muito especial.
O suco de meimendro, de teixo, de barbassa e de papoila negra misturados  com essência de lírio, permitem a aparição dos "espíritos".
O meimendro é usado muitas vezes com fins divinatórios.

AS SORTES DAS FAVAS
Escolhem-se dezoito favas, nove "fêmeas" e nove "machas", junta-se uma moeda de cobre, uma pedra pequena, um pau de lacre, um caco de porcelana, um migalho de cera, um búzio da Guiné e um pedaço de papel.
Procede-se à conjuração das favas proferindo as seguintes palavras:
"Minhas favas, minhas queridas, eu vos esconjuro não como favas, senão como pessoas, com Deus Padre, com Deus Filho, com Deus Espírito Santo, com a Santíssima Trindade, com o padre revestido quando quer dizer a missa, e com el-aire e com a hóstia consagrada e com todos os santos e santas que na corte do Céu há e com todos os esconjuros de Maria Padilha vos peço que me faleis verdade nisto que eu vos pergunto e quero saber".

DIAGNÓSTICO DA GRAVIDEZ 
Para saber se há criança para saber, agarre os dedos da mulher na sua mão, estenda-lhe o braço e coloque-o ao longo do corpo. Passe a sua mão sobre todo o braço. Se sentir as veias desaparecerem sob os seus dedos, ela terá uma criança.
Quanto ao prognóstico precoce do sexo da criança que está para nascer basta colocar os grãos  de trigo e de cevada em dois sacos que são regados todos os dias com urina da mulher grávida. Se só crescer a cevada, será uma rapariga. Se crescer apenas o trigo, será um rapaz.

AS SORTES DO PÃO
Uma das sortes mais antigas é a do pão. Pratica-se a uma quinta ou sexta-feira e esconjura-se o pão, invocando os demónios: "Eu te esconjuro com Barrabás e com Caifás, pão..."
Coloca-se a mão sobre o pão e prossegue-se: "Pela virtude que Deus em ti pôs que tu me declares se (isto, aquilo) há-de ser assim ou não". E finaliza: "Não me mintas que eu hei-de saber".  


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UM MINUTO DE SILÊNCIO...

Hoje a tua lembrança assaltou-me particularmente... o passado andou atrás de mim, denso, quase palpável, pegajoso.
Tanto tempo se passou mas eu continuo a caminhar no interior da tua ausência, numa busca desesperada e interminável...
Porque partiste, meu amigo?
Eu sei que sempre fui parco  em palavras e nunca tive talento e arte para te dizer - ao menos uma vez - o quanto eras importante para mim e tantas oportunidades eu tive para o fazer... desde os tempos descuidados da nossa meninice, em que estendidos à sombra de pinheiro esgalhado e cheiroso, nos deliciávamos com os voos dos tordos e pardais... ou a musica sincopada dos balidos dos rebanhos.
Agora é tarde. Tu foste embora e apenas o teu fantasma povoa as minhas horas de solidão.
Viver é perder amigos... e eu perdi-te para sempre.
Naquele final de tarde, Março, mas naquelas paragens não era Primavera...
O crepúsculo de fogo em breve daria lugar a uma noite abafada. Nem uma leve aragem refrescava a atmosfera pesada e morna. As árvores eram manchas escuras que mal definiam o recorte da ramaria. O sol escondido atrás das nuvens, queima  no entanto. Não se sentem as frechadas escaldantes dos seus raios, mas tem-se a angustiante sensação de se estar encerrado num forno recém-aquecido.
Caminhávamos há longas horas, a sede trespassava-nos as entranhas e embotava-nos o cerebero. Vivíamos alucinantes momentos de desespero. Dois dias, e nem uma gota de água escorria dos cantis há muito secos. O suor pegajoso ensopava as roupas incómodas. O cansaço fazia-nos arrastar pesadamente os pés. Era vital encontrarmos água!
Inesperadamente, tu disseste: eu vou! E deste meia dúzia de passos... afastaste-te da parca segurança do grupo. Eu devia ter impedido o teu acto tresloucado... e não o fiz! Num assomo de egoísmo e cobardia senti satisfação pela tua decisão. Eu não teria tido coragem!
Subitamente, um estampido! Naquele instante telúrico, vislumbrei o teu corpo cambaleante em trôpegas  passadas, retroceder para junto de mim. As tuas forças esvaírem-se e tu deixaste-te cair nos meus braços. Um fio de sangue ensopou suavemente o teu peito.
O teu rosto exangue... o desespero mudo das ultimas palavras que querias murmurar, estampado nos teus lábios entreabertos. Que me querias dizer? E por fim, a expressão de uma infinita e suave tristeza nos teus olhos já sem brilho. 
Partiste, meu Amigo! Nunca mais acenderás no meu o teu cigarro...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Preparação Artesanal de Produtos Fitossanitários em Agricultura Biológica

CALDA SULFOCÁLCICA 
Calda Sulfocálcica
Preparação de 10 lts de calda
1 kg de Cal Viva
2 Kgs de enxofre
13 lts de água

Passos de preparação:
1.- 5 lts de água a ferver + 1 kg de cal
2.- Quando recomeçar a ferver juntar lentamente 2kg de enxofre
3.- Juntar aos poucos os restantes 8 lts de água
4.- Deixar ferver 60 minutos em lume brando
5.- A massa fica com cor escura e uma parte dela deposita-se no fundo do recipiente
6.- Decantar o liquido sobrenadante (que fica na parte superior) para um recipiente não     metálico
7.-Guardar a massa que fica depositada no fundo num recipiente não metálico.
Obs:
Num recipiente de ferro ou latão, adicionar vagarosamente a cal viva a 5 lts de água, mexendo sempre com um pau.
No inicio da ebulição, misturar vagarosamente o enxofre previamente dissolvido em 
água. A restante água a misturar também deve ser previamente aquecida. 
A calda passará de cor amarela, laranja, avermelhada e vermelho escuro quando pronta. 
Após o arrefecimento, depois de criar depósito, deverá ser coada com um pano fino ou um vulgar coador, para evitar o entupimento do bico do pulverizador.

Utilizações da Calda Sulfocálcica:
Tratamentos de Inverno - calda diluída em água a 10 - 15%
Macieira, pereira, marmeleiro, pessegueiro, ameixeira, damasqueiro, cerejeira, amendoeira:
Ácaros e cochonilhas. Cancros da casca, oídios, lepra.

Vinha:
Oídio, podridão

Citrinos: 
Diluição a 2 - 3%
Fumagina, ácaros, cochonilhas

Oliveiras
Acção repelente contra a lagarta da casca da oliveira, gafa.
Hortícolas
Diluição a 2%
Alho, cebola, feijoeiro, faveira, ervilheira
Ferrugem

A Calda Sulfocálcica é um produto de muito baixo custo, com uma ampla gama de utilização, não tóxico, pelo contrário com efeito estimulante e nutriente (nutrientes cálcio e enxofre).
Pode ser armazenada durante cerca de um ano, num local fresco e seco, ao abrigo da luz.

sábado, 11 de setembro de 2010

Na Tchon de Lisboa... (No Chão de Lisboa...)

Vi gentes das Ilhas na tchon de Lisboa. Nas costas de Lisboa em movimento, nos andaimes entorpecidos de frio de Lisboa em construção, nos arredores de Lisboa salpicados de negro e sonhos em debandada. Vi pedaços das Ilhas desfilando em cortejo pelas ruas de Lisboa no sorriso crioulo de Bety de Ti Jôn d'Rome que me espera ali na paragem de comboio de Alcântara, no groguinho da Ilha que nos embala as estórias na casa do Campin de Bebê, na morna ondas sagradas do Tejo que meu sobrinho Nelson trauteia mecanicamente para espantar o frio na hora do banho... 
Vi gentes das Ilhas na tchon de Lisboa. 

(Gentes das Ilhas - 61 "estórias" enquanto o sono não vinha") 

                

E....



E... valeu a pena.... porque me levaram a uma terra magnífica, de gente boa, afável, simpática, das crioulas ( e crioulos, ora...), do sorriso mais lindo e olhos de amêndoa...  e daquela crioula que todas as manhãs me acenava do outro lado da rua... do Grog do Trapiche - o do Botequim a Boca do Tubarão é magnifico - mas o do Cumpadre Franklin não lhe fica atrás... dos pores do sol mágicos, do ponche do Coculi - que coisa boa... da Susana e do Nuno... do Tiagão. Da Eurizanda e do Renato... Do Paul e Ribeira Brava. Calhau, Laginha e Baía das Gatas. Das forças telúricas de uma Mãe-Natureza sempre a segredar-me: Tem cuidado Jardineiro-do-Rei... não vale a pena pores-te em bicos dos pés.  Tu não és  ninguém!

Nha Terra... Nha Cretcheu

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sou um sobrevivente.... dos TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde

Está? Bom dia... É só para comunicar que os TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde, anteciparam o seu voo inicialmente marcado para as 8 horas, com destino a São Vicente, para as 6,45 do mesmo dia. Não se esqueça que deve estar no Aeroporto com 3 horas de antecedência, para fazer o seu check-in. Muito obrigado!
Assim dizia a simpática e profissional menina da Agência de Viagens.
Uops!! Magnífico! Pensei eu... vou chegar bem mais cedo a Cabo Verde - exultei eu, pobre novato nestas andanças aeroportuárias.
2,30 horas do dia aprazado para o embarque, lá estava eu, o mais insular possível, vestimenta branca, boné de palhinha de arroz "made in Equador", que - diga-se - fez um vistão lá no Mindelo... na fila do check-in 98, ainda encerrado, rodeado de uma pequena multidão de gente crioula.

3.00 horas, check-in feito, fui o segundo da fila do 98 a cumprir o ritual. Que feliz eu fiquei! (Nada me disseram de um molhinho de Poejos e outro de  Hortelã da Ribeira que iam disfarçados entre peúgas e T-Shirts, mas isso é segredo de Jardineiro...). Só me restava esperar pelas 6.45 - também já não falta muito... Olho para o painel informativo: Voo com destino a São Vicente atrasado. Nova partida 8,30! Não é grande o atraso. Mais uma volta pelo aeroporto ainda meio adormecido. Mais um lamiré ao tal painel... Voo TACV com destino a São Vicente atrasado - partida 9,00! Não há problema. Partida 10 horas... Partida 10.15... Partida 10.30. Aí pararam - Só podiam ter estado a gozar com a minha cara e de toda aquela gente. 

Às 11 horas ainda estava eu especado a olhar para a porta da sala de embarque. Deve ser assim mesmo... "Pidimos aos sinhores passageiros com destino a São Vicente o favô de si dirigirem ao portão di embarque, mas primeiro entra quem tem dificuldade..." convocou-nos um funcionário com pronuncia carioca... Pois, todos estávamos já em grande dificuldade depois de quase 8 horas de Aeroporto. Grávidas, idosos, crianças de colo, deficientes - segredou-me alguém familiarizado com o ritual de iniciação TACV.

E lá entramos na sala de embarque e depois no autocarro que nos havia de levar até avião estacionado algures, envergonhadamente bem longe das vistas, (como convém a quem faz os passageiros esperar mais de 8 longas horas...)

Já no ar uma angústia invadiu-me e pensei: Estes aviões deviam voar bem mais rasteirinhos... Se houvesse alguma avaria o pessoal pulava para terra.

Bem vindos a bordo, senhores passageiros. O Comandante Mário Alvim e a restante tripulação lamentam o atraso, do qual os TACV não são responsáveis... (Será que foram os passageiros os responsáveis? ehehehe...). Tudo faremos para recuperar este atraso. Voamos a uma velocidade de 800 quilómetros por hora, a uma altitude de 33 000 pés. A viagem demorará cerca de 4 horas. Os TACV (o prazer de bem viajar - como dia uma sugestiva frase inscrita no encosto de cabeça da minha cadeira) desejam uma boa viagem.

4 horas depois...
Senhores passageiros: dentro de 10 minutos iniciaremos os procedimentos de aproximação à pista do Aeroporto Internacional de São Pedro em São Vicente. Devem ocupar os vossos lugares e apertar os cintos. Também deverão atrasar os vossos relógios, 2 horas. Muito obrigado. Foi um prazer te-los a bordo!
No meu espírito fez-se luz! O Comandante Alvim havia recuperado uma parte substancial do atraso. Vejamos:

Saída de Lisboa - 11.30
Chegada a São Vicente - 15.30 (ou 13.30...)
Tempo de viagem - 4 horas (ou 2 horas...)

Como - o Senhor Comandante pediu - eu atrasei o meu relógio em 2 horas, logo, o tempo de viagem foi reduzido para 2 horas. Este raciocínio simples levou-me a outra conclusão brilhante: mantendo-se a distância quilométrica entre Lisboa e São Vicente, a velocidade do avião passou para o dobro, ou seja 1 600 quilómetros por hora. Se bem me lembro, a velocidade do som é de 344 metros por segundo, ou seja, 1 238,4 quilómetros por hora.  Se os TACV voaram a 1 600 Quilómetros por hora...

Caramba! Os TACV voaram a uma velocidade super-sónica!

Agora percebo, porque razão me senti sugado pelo traseiro quando, por desarranjo intestinal, me tive que sentar na sanita de bordo e inadvertidamente carreguei num botão que lá havia...

Mas há uma coisa que eu achei estranha e para a qual ainda não encontrei explicação: Quando o avião se fez à pista uma voz masculina proferiu algo parecido com um sonoro: Ó carago! O que me fez pensar num sobressalto: Pronto... falhamos a pista. Vamo-nos despenhar!

Sobrevivi... aos TACV!