Está? Bom dia... É só para comunicar que os TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde, anteciparam o seu voo inicialmente marcado para as 8 horas, com destino a São Vicente, para as 6,45 do mesmo dia. Não se esqueça que deve estar no Aeroporto com 3 horas de antecedência, para fazer o seu check-in. Muito obrigado!
Assim dizia a simpática e profissional menina da Agência de Viagens.
Uops!! Magnífico! Pensei eu... vou chegar bem mais cedo a Cabo Verde - exultei eu, pobre novato nestas andanças aeroportuárias.
2,30 horas do dia aprazado para o embarque, lá estava eu, o mais insular possível, vestimenta branca, boné de palhinha de arroz "made in Equador", que - diga-se - fez um vistão lá no Mindelo... na fila do check-in 98, ainda encerrado, rodeado de uma pequena multidão de gente crioula.
3.00 horas, check-in feito, fui o segundo da fila do 98 a cumprir o ritual. Que feliz eu fiquei! (Nada me disseram de um molhinho de Poejos e outro de Hortelã da Ribeira que iam disfarçados entre peúgas e T-Shirts, mas isso é segredo de Jardineiro...). Só me restava esperar pelas 6.45 - também já não falta muito... Olho para o painel informativo: Voo com destino a São Vicente atrasado. Nova partida 8,30! Não é grande o atraso. Mais uma volta pelo aeroporto ainda meio adormecido. Mais um lamiré ao tal painel... Voo TACV com destino a São Vicente atrasado - partida 9,00! Não há problema. Partida 10 horas... Partida 10.15... Partida 10.30. Aí pararam - Só podiam ter estado a gozar com a minha cara e de toda aquela gente.
Às 11 horas ainda estava eu especado a olhar para a porta da sala de embarque. Deve ser assim mesmo... "Pidimos aos sinhores passageiros com destino a São Vicente o favô de si dirigirem ao portão di embarque, mas primeiro entra quem tem dificuldade..." convocou-nos um funcionário com pronuncia carioca... Pois, todos estávamos já em grande dificuldade depois de quase 8 horas de Aeroporto. Grávidas, idosos, crianças de colo, deficientes - segredou-me alguém familiarizado com o ritual de iniciação TACV.
E lá entramos na sala de embarque e depois no autocarro que nos havia de levar até avião estacionado algures, envergonhadamente bem longe das vistas, (como convém a quem faz os passageiros esperar mais de 8 longas horas...)
Já no ar uma angústia invadiu-me e pensei: Estes aviões deviam voar bem mais rasteirinhos... Se houvesse alguma avaria o pessoal pulava para terra.
Bem vindos a bordo, senhores passageiros. O Comandante Mário Alvim e a restante tripulação lamentam o atraso, do qual os TACV não são responsáveis... (Será que foram os passageiros os responsáveis? ehehehe...). Tudo faremos para recuperar este atraso. Voamos a uma velocidade de 800 quilómetros por hora, a uma altitude de 33 000 pés. A viagem demorará cerca de 4 horas. Os TACV (o prazer de bem viajar - como dia uma sugestiva frase inscrita no encosto de cabeça da minha cadeira) desejam uma boa viagem.
4 horas depois...
Senhores passageiros: dentro de 10 minutos iniciaremos os procedimentos de aproximação à pista do Aeroporto Internacional de São Pedro em São Vicente. Devem ocupar os vossos lugares e apertar os cintos. Também deverão atrasar os vossos relógios, 2 horas. Muito obrigado. Foi um prazer te-los a bordo!
No meu espírito fez-se luz! O Comandante Alvim havia recuperado uma parte substancial do atraso. Vejamos:
Saída de Lisboa - 11.30
Chegada a São Vicente - 15.30 (ou 13.30...)
Tempo de viagem - 4 horas (ou 2 horas...)
Como - o Senhor Comandante pediu - eu atrasei o meu relógio em 2 horas, logo, o tempo de viagem foi reduzido para 2 horas. Este raciocínio simples levou-me a outra conclusão brilhante: mantendo-se a distância quilométrica entre Lisboa e São Vicente, a velocidade do avião passou para o dobro, ou seja 1 600 quilómetros por hora. Se bem me lembro, a velocidade do som é de 344 metros por segundo, ou seja, 1 238,4 quilómetros por hora. Se os TACV voaram a 1 600 Quilómetros por hora...
Caramba! Os TACV voaram a uma velocidade super-sónica!
Agora percebo, porque razão me senti sugado pelo traseiro quando, por desarranjo intestinal, me tive que sentar na sanita de bordo e inadvertidamente carreguei num botão que lá havia...
Mas há uma coisa que eu achei estranha e para a qual ainda não encontrei explicação: Quando o avião se fez à pista uma voz masculina proferiu algo parecido com um sonoro: Ó carago! O que me fez pensar num sobressalto: Pronto... falhamos a pista. Vamo-nos despenhar!
Sobrevivi... aos TACV!
3 comentários:
Mas que belo relato... Vistas as coisas, há muito tempo que ninguém escrevia nada tão divertido sobre os TACV.
Ahahahahahah..esta peça é das mais hilariantes e inteligentes que eu já li acerca de viagens!
Mas o traseiro ser sugado...isso, acho eu na minha modesta opinião que seria uma perda irreparavel...
porque atras do traseiro, lá ia o Jardineiro e este blog acabava.:))))
Bom regresso Jardineiro.
Anixa
Rir é a manifestação emotiva que melhor faz à saúde.
Está muito divertido e jocoso o teu relato.
Fez-me lembrar um episódio de juventude que também considero engraçado, porque fui a única pessoa que não enjoou!
Uma tempestade sobre a ilha do Sal, a bordo de um quadrimotor. O avião subiu e desceu durante duas horas. Não podia aterrar porque não tinha visibilidade. Eu, com o nariz em cima da válvula, para evitar o cheiro desagradável, aguentei-me!
Aos quinze anos senti-me uma heroína, eheheh...
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