sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A COZINHA DAS BRUXAS - Unguentos Satânicos.

Desde sempre a nas mais diversas civilizações, o imaginário popular ancestral foi povoado pelo estériotipo da figura da Bruxa voando a cavalgar uma vassoura.
Mas as Bruxas, realmente, voavam?
Esta é uma pergunta que, hoje, talvez nos faça sorrir, tão óbvia, parece-nos, a resposta. No entanto, à época, fez correr rios de tinta. Havia quem acreditasse, piamente, que as Bruxas voavam. Os mais cépticos defendiam que o alegado poder de voar, atribuído a estas mulheres, mais não era que estados hipnóticos induzidos pelas poções diabólicas preparadas e ingeridas por elas.
Um especialista naturalista do século XVI, Giambatista della Porta, decidiu fazer a experiência preparando e aplicando em si próprio as tais poções diabólicas e concluiu que esses unguentos mágicos induziam um sono profundo, povoado de alucinações, nas quais ele acreditou ser possível voar por longas distâncias e participar em orgias demoníacas, que descreveu com toda a riqueza de pormenores.
Também se sabe de um caso em que uma Bruxa, surpreendida e amarrada à cama e vigiada a noite toda, logo após se ter bezuntado com a tal mistela mágica, afirmou, quando acordou, ter voado uma longa distância, ter participado num "Sabat" - uma sessão de culto colectivo a Satanás - e ter mantido relações sexuais com o demónio.
O denominado unguento diabólico era composto por extratos vegetais de diversas plantas, com poderosos efeitos alucinógenos a que se acrescentava gordura animal para facilitar a aplicação e absorção.
Este produto, negro e fétido, era bezuntado no corpo da Bruxa, com especial incidência nas mãos, temporas, peitos, plantas dos pés e partes íntimas. Consoante o local do corpo onde era aplicado, assim variava o seu efeito, já que dependia do grau de absorção.
Hoje sabe-se que a vassoura as ajudava a voar, mas não no sentido tradicional que conhecemos. À época, a vassoura era considerada um simbolo do sexo feminino. A sua utilização representava a predominância da mulher sobre o homem. Das Bruxas sobre os Bruxos. O seu cabo, de aspecto fálico, era utilizado em rituais de fertilidade praticados em ambientes de extrema sexualidade, como era o "Sabat". Servia de aplicador das punções satânicas na parte mais interna da vagina , cuja mucosa é irrigada por inúmeros vasos sanguíneos. Assim, a absorção era rápida e o efeito quase imediato.
Estas mulheres, tidas como alucinadas e possuídas pelo demónio, eram sim, experientes conhecedoras das plantas e dos seus princípios activos. A sua experiência e conhecimentos eram fundamentais para atingirem os objectivos a que se propunham. A diferença entre o estado de alucinação e a morte por intoxicação, estava, tão só,  na quantidade de produto ingerida.
Figueira-do-Inferno
No século XIX, o Teólogo alemão Karl Kiesewetter decidiu repetir a experiência de della Porta, realizada três séculos antes. Para tanto, seguindo a receita descrita por antigos autores, produziu um dos unguentos mágicos e aplicou-o a si mesmo. O efeito não se fez esperar e foi exactamente o mesmo: Sono profundo agitado por visões fantásticas e alucinações.
Meimendro-Negro
Entre as plantas diabólicas utilizadas pelas bruxas, está bem representada a família das Solanácias, como é o caso da Mandrágora, do Meimendro-Negro, da Beladona e da nossa conhecida Figueira-do-Inferno ou Estramónio, pasme-se, da mesma família botânica da Batateira, da Beringela e do Tomateiro...

                             

6 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Deveras interessante!
Em criança e jovem sonhava muitas vezes que voava...seria bruxa nessa altura? :)

Abraço

Majo disse...

Não é que eu nem acreditava em bruxas?!

Há uma predisposição na minha mente para não crer na existência do que é feio, fato que me conduz a estas situações de patética ingenuidade...
Bruxas, para mim eram mulheres que, pela sua feúra ou doenças repugnantes, eram segregadas da comunidade e viviam isoladas, com grandes privações. Pensava que o clero para desviar a atenção dos seus pecados, excomungava estas criaturas miseráveis e incentivava o ódio por elas.
Deve haver alguma verdade nesta minha conclusão. Penso que foram muitas bruxas inocentes para as fogueiras dos tribunais do Santo Ofício...

Amigo, foi uma ótima pesquisa, muito bem exposta, esclarecedora, para mim muito elucidativa. Estava bem longe de imaginar tais perversões!
Uma forma horrível e asquerosa de aplicar fitologia...

Já agora aproveito para partilhar alguns conhecimentos sobre cuidados que devemos ter com os alimentos provenientes das Solanácias. Os adeptos da macrobiótica detestam-nos, por conterem Solanina, um glicoalcalóide, que ingerido em grandes quantidades é alucinógeno e tóxico, como explicou o João Carlos.
Tomates, beringelas, batatas e pimentos verdes e vermelhos contêm um nível de solanina aceitável pelo nosso organismo, mesmo assim, há quem não goste de comer batatas ao almoço. Dizem provocar-lhes sono.

Não devemos consumir batatas verdes ou manchadas de verde, batatas greladas, tomates verdes ou com o interior verde; por conterem níveis altos de solanina, em quantidade prejudicial à saúde.
Extraído do livro: "Alimentos Vegetais" de Lyndel Costain.

Com a maior simpatia...

Maria Paz disse...

Que pena! Afinal não passava de alucinações!
Ainda tinha uma leve esperança de um dia as pessoas voarem em vassouras! Imagine o que o planeta ganhava em termos de poluição. Nesse sentido só me resta o teleporte ou telecinese.
Gostei muito deste artigo.
Beijinho

Lilá(s) disse...

Verifico que é grande a sabedoria do Jardineiro do Rei!e afinal as bruxinhas sofriam apenas de alucinações!
Bjs

Labirinto de Emoções disse...

E pronto lá se quebrou a magia...afinal o raio das bruxas são umas alucinadas, se elas descobrem que agora não precisam de vassouras para voar...as sexshop vão ficar quotadas em bolsa...ahahaha
Eu cá por mim, continuo a ser bruxinha só na cozinha e a fazer voar os meus amigos/as com os meus petiscos.:-)))

Beijinho grande João, gosto sempre de te ler..:-)

Majo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.