Nas minhas deambulações por São Vicente e Santo Antão - Cabo Verde, encontrei inúmeros exemplares desta árvore. Neem, de seu nome científico Azadirachta indica. Como nos diz o seu segundo nome científico, é uma árvore nativa da India, onde chega a ser considerada sagrada.
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Neem numa rua do Mindelo - São Vicente |
É uma árvore de "corpo inteiro", na verdadeira acepção da palavra.
Extremamente resistente à seca, às pragas e às doenças, é medicinal "da cabeça aos pés", melhor dizendo, desde as sementes, folhas até à casca do caule. Na industria farmacêutica, os seus componentes tratam maleitas da pele, acne, infecções de origem fúngica, eczemas. Os seus princípios activos são utilizados no tratamento da hepatite da úlcera do estômago, actuando na regeneração da mucosa gástrica. Um estudo da Universidade da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), demonstrou que extractos desta árvore reduzem a incidência da cárie dentária.
É uma das plantas medicinais mais usadas na Medicina Ayurvédica (medicina tradicional indiana). É purificadora do sangue, actuando no controle dos níveis de glicémia.
Mas não se fica por aqui o potencial desta árvore. É um dos principais pesticidas naturais. As suas folhas fervidas dão origem a um chá que, diluído em água, tem acção curativa sobre outras plantas atacadas. O óleo extraído, por prensagem, das suas sementes, também é um excelente controlador biológico de pragas e doenças.
Para terminar, apenas refiro que as suas folhas são usadas como condimento na culinária tradicional indiana e a sua madeira usada em alta marcenaria.
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Neem a pouco mais de 500 metros do mar em Porto Novo - Santo Antão |
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Frutos de Neem |
Eu sei que estas longas dissertações sobre plantas são fastidiosas. Qualquer pessoa pode encontrar este arrazoado de palavras, na net ou em qualquer livro da especialidade. Há blogues a mais a falar sobre o tema. Apesar disso, o que me levou a abordar o assunto, não foi propriamente a pretensão de informar, muito menos de ensinar seja o que for. Foi deliberadamente que me alonguei na descrição das virtudes da Neem. Como atrás digo, é uma árvore que se adaptou perfeitamente ao solo seco e pobre das ilhas caboverdeanas. Nas ruas do Mindelo ou de Porto Novo existem exemplares magníficos e também na faixa litoral. As sementes caem no chão e germinam com a maior facilidade. Estranhamente, que eu saiba, o potencial desta árvore é completamente ignorado. O repovoamento florestal das zonas áridas e semi-áridas destas duas ilhas (e das outras ilhas do arquipélago) é feito maioritariamente utilizando 8 variedades de Acácias, algumas delas espécies potencialmente invasoras, que se propagam facilmente, tornando-se
verdadeiras pragas, como se pode verificar em S. Vicente e Santo Antão. Mesmo acreditando que o gado caprino existente, as possa utilizar como alimento.
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Acácias invadindo um campo de lava vulcânica em Santo Antão |
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As cabras recusam-se a comer esta variedade de Acácia que, aos poucos, vai colonizando um campo de magma. |
É certo que as Acácias sobrevivem em condiçõesde secura extrema e têm um crescimento rápido. Ajudam a fixar e a regenerar os solos e podem ter interesse na produção de mel por via das suas flores melíferas, mas, em contrapartida, têm uma vida demasiado curta, nalguns caso não ultrapassando os 15/20 anos, um potencial económico diminuto, para já não falar na tua tendência altamente invasiva.
Colocando nos pratos da balança a relação benefício/prejuizo, olhando para os campos das ilhas, ora desertos, ora cobertos de Acácias e relendo o rol de potenciais qualidades que acima debito, do alto da minha ignorância, deixo uma simples pergunta: Porque não apostar definitivamente na produção de Neem?