domingo, 9 de fevereiro de 2014

NEEM, A ÁRVORE DA VIDA

Nas minhas deambulações por São Vicente e Santo Antão - Cabo Verde, encontrei inúmeros exemplares desta árvore. Neem, de seu nome científico Azadirachta indica. Como nos diz o seu segundo nome científico, é uma árvore nativa da India, onde chega a ser considerada sagrada.
Neem numa rua do Mindelo - São Vicente
É uma árvore de "corpo inteiro", na verdadeira acepção da palavra. 
Extremamente resistente à seca, às pragas e às doenças, é medicinal "da cabeça aos pés", melhor dizendo, desde as sementes, folhas até à casca do caule. Na industria farmacêutica, os seus componentes tratam maleitas da pele, acne, infecções de origem fúngica, eczemas. Os seus princípios activos são utilizados no tratamento da hepatite da úlcera do estômago, actuando na regeneração da mucosa gástrica.  Um estudo da Universidade da UCLA  (Universidade da Califórnia, Los Angeles), demonstrou que extractos desta árvore reduzem a incidência da cárie dentária.
É uma das plantas medicinais mais usadas na Medicina Ayurvédica (medicina tradicional indiana). É purificadora do sangue, actuando no controle dos níveis de glicémia.
Mas não se fica por aqui o potencial desta árvore. É um dos principais pesticidas naturais. As suas folhas fervidas dão origem a um chá que, diluído em água, tem acção curativa sobre outras plantas atacadas. O óleo extraído, por prensagem, das suas sementes, também é um excelente controlador biológico de pragas e doenças.
Para terminar, apenas refiro que as suas folhas são usadas como condimento na culinária tradicional indiana e a sua madeira usada em alta marcenaria.

Neem a pouco mais de 500 metros do mar em Porto Novo - Santo Antão
Frutos de Neem
Eu sei que estas longas dissertações sobre plantas são fastidiosas. Qualquer pessoa pode encontrar este arrazoado de palavras, na net ou em qualquer livro da especialidade. Há blogues a mais a falar sobre o tema. Apesar disso, o que me levou a abordar o assunto, não foi propriamente a pretensão de informar, muito menos de ensinar seja o que for. Foi deliberadamente que me alonguei na descrição das virtudes  da Neem. Como atrás digo, é uma árvore que se adaptou perfeitamente ao solo seco e pobre das ilhas caboverdeanas. Nas ruas do Mindelo ou de Porto Novo existem exemplares magníficos e também na faixa litoral. As sementes caem no chão e germinam com a maior facilidade. Estranhamente, que eu saiba, o potencial desta árvore é completamente ignorado. O repovoamento florestal das zonas áridas e semi-áridas destas duas ilhas (e das outras ilhas do arquipélago) é feito maioritariamente utilizando 8 variedades de Acácias, algumas delas espécies potencialmente invasoras, que se propagam facilmente, tornando-se
verdadeiras pragas, como se pode verificar em S. Vicente e Santo Antão. Mesmo acreditando que o gado caprino existente, as possa utilizar como alimento.  
                                                                           
Acácias invadindo um campo de lava vulcânica em Santo Antão

As cabras recusam-se a comer esta variedade de Acácia que, aos poucos,
 vai colonizando um campo de magma.

É certo que as Acácias sobrevivem  em condiçõesde secura extrema e têm um crescimento rápido. Ajudam a fixar e a regenerar os solos e podem ter interesse na produção de mel por via das suas flores melíferas,  mas, em contrapartida, têm uma vida demasiado curta, nalguns caso não ultrapassando os 15/20 anos, um potencial económico diminuto,  para já não falar na tua tendência altamente invasiva.

Colocando nos pratos da balança a relação benefício/prejuizo, olhando para os campos das ilhas, ora desertos, ora cobertos de Acácias e relendo o rol de potenciais  qualidades que acima debito, do alto da minha ignorância, deixo uma simples pergunta: Porque não apostar definitivamente na produção de Neem?

8 comentários:

Majo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Paz disse...

Gosto especialmente dessas dissertações, que por mim podiam ser ainda mais longas.
Quanto ao resto, lá, como cá, os invasores são permitidos e vão ganhando a batalha, por inércia ou por ignorância.

Mariazita disse...

Embrulhada num forte abraço trago um Obrigada - pela tua presença, pelos parabéns, pela amizade.

Se eu disser que vir aqui é receber um bano de conhecimento não exagero.
Vivi dois anos em S. Vicente, visitei Santo Antão, e foi preciso visitar-te para aprender tudo sobre esta abençoada árvore.
Que nunca te doam os dedos por escreveres coisas tão interessantes.

Bom fim de semana
Beijinhos sorridentes

Lilá(s) disse...

Na verdade ao ler-te acabei por aprender bastante, e afinal trouxes-te umas sementinhas do Neem?
Bjs

Jardineiro do Rei disse...

Lilás

Obrigado pelas palavras sempre generosas.
Sim... trouxe sementes de Neem e já estão a germinar. Se sobreviverem, uma será tua.

Um abraço

João

A Casa Madeira disse...

Bom dia! gostamos muito de conhecer o blog a gente sempre acaba vendo imagens interessantes e aprendendo mais um pouco, isso é muito bom.
Já usamos o neem aqui pelo sítio como pesticida natural mas como vc nos informou aqui pelo seu blog as suas propriedades são inúmeras para nós foi muito bom conhecer a arvore.
Obrigado(a) pela visita na acasamadeira e aproveitamos tbm para um convite a conhecer: cerebroquepulsa.blogspot.com.br
Paz e Bem.

Labirinto de Emoções disse...

Ler-te nunca cansa, o que escreves é poesia em prosa..:-)
Pena é que num Pais de tanta pobreza não haja quem invista numa industria que poderia trazer tantos frutos e alguma riqueza para o País e para as pessoas que lá vivem!
Bem hajas pela partilha João.
Um beijinho grande..:-))

Rosa disse...

Nunca percebi porque é que não existe cá Neem.
Já agora,

http://cheirar.blogspot.pt/2008/11/negcios-de-famlia.html