Desde sempre o silêncio maravilhoso das flores e das plantas e também dos frutos, nos revelaram sentimentos, afectos, cumplicidades.
É vasta a simbologia no mundo das plantas. Desde o Jardim do Éden ou do Paraíso, passando pelo fantasioso e mágico reino da alquimia e do culto da árvore, o Homem, desde a pré-história, procurou nas plantas não só o seu valor material mas também o seu significado religioso e sobrenatural.
No fundo, esse laço primordial que une o homem à planta desde tempos imemoriais, estende-se no espaço e no tempo até ao presente
Desde o paleolítico que o homem atribui sentimentos e significados às plantas e flores. Nas mitologias das mais diversas culturas, alicerçadas em séculos de história, de religião, de arte, de ciência e de tradições, a cada passo encontramos exemplos da forma como o homem foi preservando essa forma de entendimento do mundo que o rodeia. As árvores, as plantas, as flores são as mais pródigas na criação desses símbolos e mitos.
Na literatura universal amiúde encontramos referências a esse mundo fantástico...
JARDIM INTERIOR - O oráculo das flores
ACÁCIA - Os egípcios consideravam-na uma árvore sagrada. O tabernáculo de Moisés foi construído com madeira de acácia. A acácia dourada entra no simbolismo maçónico. As jovens gaulesas assinalavam a sua virgindade (e o desejo de a perder...) usando na cabeça um ramo florido de acácia - e os rapazes que as pretendiam tinham que se picar nos espinhos da coroa.
Representa a amizade e a solidão. A flor amarela, o amor escondido. A
branca, a preseverança.
ANÉMONA - Do grego anemone, que significa "flor que se abre ao menor vento" ou "flor do vento" (anemos significa "vento").
Relata-nos a mitologia grega que anémona nasceu do sangue do jovem e belo Adonis. Afrodite amou-o apaixonadamente ao ponto de deixar o Olimpo para o seguir por montanhas e florestas. Só que... Perséfone, Rainha dos Infernos, também se haveria de apaixonar por Adónis e, vendo que este a rejeitava em favor de Afrodite, matou-o. Zeus, a pedido de Aftodite, transformou o corpo morto de Adonis em anémona, a flor da Primavera. Com isso permitiu que este ressurgisse quatro meses por ano e nesse lapso de tempo vivesse com Afrodite.
De facto, a anémona, flor da Primavera, quatro meses depois de brotar, fenece e morre.
Aquilino Ribeiro em Andam Faunos pelos Bosques: "A anémona fragrante do seu claustro."
MILEFÓLIO - O seu nome científico Achillea tem a sua fonte na mitologia grega. Durante a guerra de Tróia o herói grego Aquiles foi protagonista de acto de extrema nobreza. Telefo, filho do rei da Misia. foi ferido quando combatia contra o próprio Aquiles. Este ao ver Telefo - seu inimigo no campo de batalha, mas companheiro de armas - ferido e exangue a seus pés, colheu um punhado de folhas de uma planta e colocou-as sobre as feridas do jovem e o curou.
Hoje, sabe-se que a substancia com tais poderes, existente naquela planta é um alcalóide chamado aquilína.
A este gesto tão nobre de Aquiles se ficou a dever a sua simbologia - A Nobreza de Alma.
AMENDOEIRA - A flor de amendoeira tem relevância no mundo bíblico. O cajado de Aarão floresce quando ele se encontra em retiro no deserto como sinal da escolha divina.
Os manuais médicos da Idade Média atribuíam à amêndoa o símbolo do embrião humano no útero materno.
Conta-nos a lenda grega que o jovem soldado Demophoon, regressado da guerra de Tróia é atirado por uma tempestade para as praias de Trácia, onde é encontrado pela jovem rainha Fílis, por quem se apaixona. Algum tempo depois Demophoon regressa a Atenas, não sem antes ter jurado regressar numa data precisa. Tal não acontece e a jovem e bela rainha cai morta nas areias da praia e transforma-se numa amendoeira. Demophoon, finalmente, regressa e nessa altura a amendoeira cobre-se de flores brancas e rosadas, como se ainda fosse sensível ao regresso do seu apaixonado.
Raul Brandão, Pescadores: "sigo caminhando pela estrada entre amendoeiras..."
TOMILHO - O seu nome científico, Thymus, do grego thymon, significa coragem. Os soldados romanos, antes de ferirem combate, banhavam-se em água de tomilho para terem mais vigor. Os cavaleiros andantes da Idade Média, levavam para a guerra, oferecidos pelas suas noivas, bordados com ramos de tomilho para aumentar a sua bravura. Os feiticeiros, na Idade Média, faziam fumigações de tomilho e erva fumária (moleirinha), em fórmulas de "encantamento". Quem não viu já em gravuras dessa época os enormes caldeirões fumegantes...
Inspiração de poetas desde os tempos de Virgílio, pelo seu perfume subtil e marcante. Símbolo da graça e elegância, a expressão "cheirar a tomilho" era usada na Grécia para expressar agrado.